CIPÓ DOS ESPÍRITOS

(2019) Escultura em rapadura
26 x 17 x 5 cm

 

Sobre Cipó dos Espíritos

 

O livro esculpido em rapadura, traz em relevo uma imagem que remete a um cipó com folhagens, alusão ao Ayahuasca, (mistura do cipó Jagube – Banisteriopsis caapi, e a Chacrona – Planta Rainha – Psychotria viridis), que juntos são a base da bebida ritualística visionária também conhecida como hoasca, daime, iagê, santo-daime e vegetal, usada por povos nativos desde tempos imemoriais.

 

Ora, não só o Ayahuasca mas também a Jurema Preta são símbolos da espiritualidade da mata e do cerrado, são as raízes da medicina – física e espiritual, e a comunicação desses povos com seus ancestrais e familiares (as árvores, animais e outros elementos da Natureza).

 

Um dos pontos cruciais para a implantação do processo de colonização e exploração da América do Sul era que a cultura e a religião da floresta tinham que ser apagadas junto com a própria floresta para dar lugar aos engenhos de cana de açúcar. Mas antes dos engenhos vieram as missões. Antes que os bandeirantes chegassem para escravizar os nativos, chegaram os missionários com a missão de catequizar, começando o processo de apagamento da cultura. O plantio da cana-de-açúcar foi realizado em grandes propriedades rurais denominadas de latifúndio ou plantation. 

 

* Cipó dos Espíritos é um desdobramento da instalação Remotis Visum. Leia abaixo parte do texto sobre a obra.

 

Sobre Remotis Visum

 

O uso de plantas, fungos, extratos vegetais e animais com propriedades psicoativas estão profundamente arraigados às práticas espirituais, medicinais e ritos de passagem de povos nativos que tiveram sua população e cultura marginalizadas, dando lugar à lei, cultura e tradição do conquistador.

 

Por outro lado, aquilo que é inserido em um livro pode ser institucionalizado ou imortalizado, seja em um manual de direito, um livro de leis, regras e condutas, um dicionário, uma bíblia ou livro sagrado; as publicações têm a propriedade de alçar seu conteúdo ao mainstream, de legalizar ou inserir um novo paradigma na sociedade. O livro como objeto pode representar a lei (dos homens ou de deus), a legalidade, o que é aceito ou que tem o apoio institucional.

 

A inserção de imagens de plantas, fungos e cactus ritualísticos e psicoativos pode ser vista como uma proposta de reparação histórica simbólica, ou ainda reclamação de lugar de honra, destaque e poder não só dessas plantas e substâncias, mas de tudo o que elas representam.

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